PRÓLOGO DE SANTO TOMÁS DE AQUINO

1. Como diz o Filósofo na Ética, 10, a felicidade última do homem consiste em sua melhor operação, que é da mais alta potência, isto é, a potência do intelecto, no que diz respeito ao maior dos inteligíveis.

2. Visto que o efeito é conhecido pela causa, é evidente que a causa, segundo sua própria natureza, é mais inteligível do que o efeito, mesmo que em algum momento, a nosso respeito, os efeitos sejam mais conhecidos do que as causas, porque recebemos a cognição de causas universais e inteligíveis através de particulares que recaem sob nossos sentidos.  

3. Convém, portanto, que absolutamente falando, as primeiras causas sejam segundo si mesmas, as maiores e maximamente inteligíveis, porque são entes em maior grau e verdadeiras por excelência, como fica evidente para o Filósofo na Metafísica, 2, embora essas primeiras causas sejam tardiamente conhecidas por nós.

4. Nosso intelecto se relaciona com estas causas, assim como o olho da coruja se relaciona com o Sol, pois não pode percebê-lo perfeitamente devido sua claridade excessiva.

5. É apropriado, portanto, que a felicidade última, que pode ser obtida nesta vida, consista na consideração das causas primeiras, porque o pouco que delas se pode saber é mais digno de amor e mais nobre do que tudo o que se pode conhecer sobre as coisas inferiores, como fica evidente em Das Partes dos Animais.

6. Visto que em nós este conhecimento é aperfeiçoado depois desta vida, o homem pode ser perfeitamente feliz segundo o que diz o Evangelista; “a vida eterna consiste em que conheçam a ti, o verdadeiro Deus vivo” (João 17:3).

 7. E é a partir disso que a principal intenção dos filósofos foi chegar ao conhecimento das causas primeiras por meio de tudo o que consideravam nas coisas. Por isso ordenaram o conhecimento das primeiras causas às últimas, cuja consideração destinaram o último período de suas vidas:

8. Primeiro, começando pela lógica, que transmite o método das ciências; Em segundo lugar, procedendo à matemática, cuja até as crianças podem ser capazes; Terceiro, à filosofia natural, que precisa de tempo devido a necessidade de experiência; Quarto, à filosofia moral, cujo ouvinte adequado não pode ser um jovem; Por fim, detêm-se na ciência divina, que considera as causas primeiras dos entes.

9. Alguns dos primeiros princípios, encontram-se escritos e distinguidos por diferentes proposições ao modo de verdades particulares. Em grego encontra-se o Livro de Proclo, o Platonista que contém 211 preposições, intitulado Elementos de Teologia. E em árabe, encontra-se este livro que se chama De Causis entre os latinos, e que se concordou em ser traduzido do árabe e não mais do grego. Contudo, parece que este livro foi extraído por um dos filósofos árabes da referida obra de Proclo, especialmente porque tudo o que está contido neste último livro está contido de uma forma muito mais completa e detalhada no primeiro.

10. Portanto, a intenção deste livro, chamado De causis, é fazer uma determinação sobre as primeiras causas das coisas; e porque o nome da causa implica certa ordem e a ordem é encontrada nas causas uma em relação a outra, a obra pressupõe, como se fosse uma espécie de princípio de trabalho, certa declaração relativa à ordem das causas, que é aseguinte: Toda causa primeira tem mais influência sobre seu efeito do que uma causa universal segunda.

Tradução: Geovane Campanher

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *